Par Syna le 21.5.2021
Catégorie: Português

«Só queixar-se não resolve nada»

Vanessa Cabral não aguenta simplesmente tudo. O facto de já não trabalhar na sua profissão de formação como cabeleireira não é, porque não gostava do trabalho, mas sim pelas difíceis condições laborais.

Quando era criança já penteei as minhas barbies. Por isso, desde muito cedo ficou claro que eu queria aprender a ser cabeleireira. Mesmo se eu não trabalhe hoje mais no setor, ainda acho que a profissão em si é ótima. O trabalho é muito variado e lidas com muitas pessoas diferentes. É uma atividade criativa, para a qual tens de saber bastante: tens de conhecer a variedade de cores, aplicar técnicas de corte, implementar as últimas tendências... E também es terapeuta: muitas/muitos clientes falam contigo sobre os seus problemas. Eles confiam em ti e voltam sempre para ti, porque conheces a história delas/deles.

O lado negativo
Infelizmente, o trabalho tem uma má imagem: todos acham que uma cabeleireira é estúpida. Só aprendeu a profissão, porque não teve outra opção. Mas concluímos um curso profissional de 3 anos com um Certificado Federal de Aptidão Profissional (EFZ)! As condições laborais são muito difíceis no setor: trabalhas muitas horas, geralmente também aos sábados. Muitos quase não têm intervalos para o almoço ou têm de interrompê-lo assim que um cliente esteja a entrar.
O pior de tudo, porém, é o salário: um cabeleireiro tem um salário mínimo bruto de 4000 francos - sem o 13º mês! Como alguém pode viver disso? Todas as cabeleireiras e todos os cabeleireiros que conheço não têm mais dinheiro no dia 30 do mês - a partir daí vivem das gorjetas. O que também é muito injusto: após um curso profissional de 3 anos, ganhas o mesmo valor que alguém que completou uma formação de 2 anos com um Attestado Federal profissional (EBA). Mesmo um trabalhador temporário que enche as prateleiras no retalho ganha mais.

O setor também oferece poucas oportunidades de desenvolvimento. É por isso que muitos se tornam independentes ou mudam de profissão. Queria administrar uma filial logo após a minha formação. Naquela época, ganhei 4000 francos – o salário mínimo. Foi-me oferecida a oportunidade de assumir uma filial maior por 4500 francos mensais. Mas não assumo uma responsabilidade tão grande por apenas mais 500 francos! Ficou claro para mim: não importa como eu me desenvolva, a situação financeira não vai melhorar. Se eu continuar pagar ao segundo pilar desta forma, terei apenas alguns centavos disponíveis quando for velha.
Lutado com êxito 

Quando o Syna me pediu para trabalhar para o sindicato, eu disse que sim. Estou no serviço de campo do Syna desde 2019 e incentivo outros profissionais a se filiarem ao sindicato. Sou sindicalista desde o 1º ano de meu curso profissional. O momento acionador foi uma experiência na empresa: todos os aprendizes deveriam trabalhar durante todos os dias das férias de Natal. Mesmo no dia, no que teríamos de ir normalmente à escola. Eu sabia que isso não era permitido! É por isso que resisti. Eu disse a meus superiores: «Podem me incluir nos planos, mas não virei. Vou informar a entidade reguladora de formação!» Funcionou - a partir daí, todos os aprendizes tiveram tempo livre durante os feriados.

Só queixar-se não resolve nada 

Sempre digo às minhas colegas profissionais: «Durante a tua formação profissional tens a entidade reguladora de formação que te ajuda. Mas depois estás sozinha!» Por isso, é importante ser membro do sindicato. Porque se formos muitos, podemos conseguir muito mais! Quero encorajar outras mulheres a envolver-se para melhorar as suas condições laborais. Só queixar-se não resolve nada. Quero dizer às mulheres: fiquem no setor e lutam para melhorar as condições laborais. Comprometa-se a garantir que receberão mais salário para que, futuramente, possam viver com o vosso salário como cabeleireira.

A nova classe trabalhadora é principalmente feminina e trabalha no sector dos serviços. As suas condições de trabalho são frequentemente precárias: os salários são baixos, as horas de trabalho são longas e a pressão está a aumentar. Isto só pode mudar se as trabalhadoras se levantarem e lutarem pelos seus direitos.


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